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Isto nunca me aconteceu antes - Ricardo Blayer

por Imaginauta, em 11.09.17

Sou um desses gajos agora. Estas são as minhas roupas, um conjunto de t-shirts e camisas inofensivas de cores sólidas quase pretas conjugadas com a primeira imagem que vem à cabeças do cidadão comum quando ouve “calças” e uns sapatos (esta é a melhor forma dos descrever), ás vezes também uso um casaco qualquer. Este é o meu sítio, um amplo cubo escuro com luz baixa de tons vermelho e violeta enaltecendo a aparência dos seus habitantes escondendo-a.

Esta “Sagres” custou 4 euros, felizmente não aprecio cerveja e vou demorar tempo suficiente a engoli-la para não sentir que o meu gasto foi vão, de qualquer forma não vim aqui para beber.

Imaginei os homens daqui mais feios e velhos, sinto alguma ansiedade ao constatar o meu erro, por outro lado fico feliz por me aperceber que ainda tenho uma ideia de mim forte o suficiente para ser ferida e não completamente desprovido de orgulho, mesmo que este me seja completamente inútil.

Uma criatura bizarra de cabelo e lábios rosa choque parece vir na minha direcção. Conforme se aproxima sou ofuscado pelo glitter que lhe adorna o generoso decote sintético e pelas lantejoulas do seu vestido prateado, ela tem o brilho barato dos carrinhos de choque. Pára ao chegar à minha frente, apoia de forma gentil a mão no meu ombro e aproxima a boca do meu ouvido para me dizer numa voz demasiado alta “oi, não me quer pagar um drink?”

Não tenho a menor intenção de foder esta desgraçada nem de lhe pagar o que quer que seja mas o meu tímido “hmm, não sei” não lhe convenceu. Ela aproximasse ainda mais e esfrega a palma na minha barriga enquanto balbucia umas súplicas ensaiadas às quais não me dou ao trabalho de ouvir. Não consigo deixar de me incomodar com a pesada camada de maquilhagem que lhe cobre o rosto ou com as unhas de três centímetros pintadas às riscas rosa e azul. Ela tem um hálito doce de pastilha de morango, odeio coisas com sabor a morango, provavelmente porque adoro morangos. O seu tom de voz pseudo-sexual e infantil dá-me a impressão de estar prestes a ser enganado, tenho de fazer qualquer coisa para a despachar.

- Se eu te pagar uma bebida, paras de ser chata?

- Páro… de ser chata… não te vais arrepender.

- Que queres então?

- Um Cosmopolitan, por favor.

Catorze euros, puta! E nem foi embora, está agora a puxar e a empurrar a palhinha com os lábios enquanto me olha de soslaio com a subtileza dum rinoceronte blindado. Não sei porque ainda penso que alguém se vai embora quando lhe satisfazes os pedidos, ela nem é a minha namorada.

Contraio todos os músculos do meu corpo e fico imóvel a fixar o sinal da saída de emergência. Faço um esforço por ignorar as mãos dela, é particularmente difícil fazê-lo quando a parte de trás do meu pescoço está a ser arranhada pelas suas garras. Depois duns minutos de indiferença forçada ela afasta-se com um olhar ofendido e um violento “paneleirão!”

Deambulo pela sala não sei porquê à procura de não sei como. A aura de frustração sexual não é tão deprimente como pensava, observo o mesmo sentimento de glória fútil obtido quando se acaba um videojogo na dificuldade “principiante”. Os homens têm o peito insuflado e os seus braços açambarcam como ganchos as mulheres aparentemente divertidas.

Procuro as fêmeas não acompanhadas, todas elas são recortes de catálogos de fantasias. Miúdas pequenas com olhos claros e estilo colegial, amazonas negras mostram coxas robustas adornadas com saias curtas e coloridas, senhoras magras com mamas desproporcionais em vestidos cocktail, gajas morenas em ganga preta esticada e casacos de cabedal, índias delicadas em padrões florais, damas de olhar severo embrulhadas em vinil… Não pode ser… não é ela… aqui? Mexe-te! Dá meia volta e sai daqui meu cabrão! Não deixes que ela te veja! É isto que tu realmente queres?

- Nuno? És tu! Aqui?!

A sua gargalha fresca é a voz da minha humilhação. Agora é tarde, vou permitir a corrida até mim para ela me envolver em culpa com os seus braços.

- Anda, vem sentar-te comigo.

Ela pede duas cervejas e paga-as dizendo ao empregado “este é meu amigo”. Sentamo-nos na mesa mais imperceptível do bordel, eu faço um resumo da minha vida tão interessante como a própria mas ela parece ouvir-me, ela sempre o fez.

Pergunto-lhe como veio parar aqui. Ela conta-me uma história comum: no segundo ano da faculdade precisou de dinheiro para as propinas, consegui-o com duas horas de trabalho que nem lhe custaram muito. Começou a prostituir-se ocasionalmente, primeiro quando precisava desesperadamente de dinheiro, depois para comprar coisas que queria muito – viagens, máquinas fotográficas e de filmar, por fim aceitou a situação como o seu trabalho. Não era nenhum mar de rosas mas também não era tão custoso como imaginara, tendo em conta o pagamento e o horário laboral era preferível à maioria dos empregos, podia até beber durante o expediente.

Enquanto falava procurei qualquer sinal de tristeza, remorso ou desespero. Nada. Não havia hesitação na voz ou artificio nas palavras. Estava alegre por me ver e de modo algum embaraçada pelas circunstâncias. Dizia “levei no cú” com a mesma naturalidade que falava dos seus projectos escolares no secundário onde, tal como agora, eu também passava os meus dias a tentar descodificar sinais duma realidade fantasiada nas nossas conversas.

Faço um esforço para esconder o meu desconforto através de acenos de cabeça e sorrisos, conseguia até por vezes exclamar chavões como “uau” ou “não posso acreditar” ou “ tu és doida”. Ainda assim não creio ter sido convincente quando o meu corpo traía a minha compostura através do franzir duma sobrancelha, duma contracção dos ombros ou lábios, do tremer duma perna ela mudava subtilmente o tema da conversa para episódios nostálgicos do nosso passado.

- Então e tu Nuno, o que te traz aqui?

Como responder-lhe? Digo-lhe que para ultrapassar a minha obsessão não correspondida por ela encarei a minha vida amorosa com um niilismo atípico pedindo distância emocional em troca de afecto plástico às infelizes solitárias que tinham a indulgência de me desejar? Que todas as relações carinhosas que estabeleci com mulheres terminaram num suspiro mútuo de cansaço ou desinteresse? Que nos dias mais felizes dum longo namoro motivado por insegurança comparava esse pressuposto amor à nossa pressuposta amizade e sentia-me condenado ao fracasso? Que pensava nas nossas conversas quando me aborrecia de aconchegar desconhecidas? E que agora após ter conquistado um ordenado de quatro dígitos decidira investir mensalmente um terço do mesmo em encarar as minhas necessidades sexuais da mesma forma que encaro as minhas necessidades de nutrição? Era isto que desejava responder, desde há muito tempo, desde antes de tudo isto acontecer. E devia fazê-lo, afinal de contas ela era uma especialista em satisfazer.

- Vim só ver.

Os espasmos agudos da minha voz denunciavam-me de novo, uma vez um cobarde, cobarde para sempre.

- E estás a gostar? Haverá alguma sortuda?

-Hmm, não sei…

Disfarço muito mal o meu pânico ao vasculhar a sala com os olhos à procura duma rapariga de idade próxima à minha com uma beleza pouco convencional mas discreta e porte digno para tentar parecer o putanheiro menos patético possível.

- Aquela ali é interessante.

Aponto para uma mulher esbelta um pouco alta usando expressão distante, vestido e sapatos brancos contextualmente conservadores, corpo firme e subtil e uma certa qualidade estatuária ainda não esmagada pela exposição constante a brejeirice e Rod Stewart. Ainda por cima era preta, isso devia conceder-me alguns pontos.

- A Brenda? Ela é bonita, sim senhor tens bom gosto. Mas não a aconselho, não gosta de fazer broches, chega mesmo a arranhar a cabeça do caralho aos clientes com os dentes para eles a interromperem. Não Nuno, tu precisas de mais dedicação.

Ela estica o pescoço e move a cabeça lentamente até encontrar a candidata perfeita.

- A Rute é melhor, ela vai tratar-te bem, já a vi enterrar uma bola de ténis na boca, juro.

Era a gaja com as maiores mamas de silicone do sítio, claro que era a gaja com as maiores mamas de silicone do sítio.

- Não sou grande fã de silicone.

- A sério? É uma pena. Bem… Eu também posso ser alugada.

- Tu?! Não, jamais, eu nunca conseguiria.

- Porque não? É o meu trabalho. Se não fores tu será outro qualquer. Como aquele.

Ela aponta para um tipo gordo e oleoso com uma t-shirt onde se lê uma reinterpretação da sigla F(emale).B(ody).I(nspector), uns calções largos camuflados três dedos abaixo do joelho e uma barba densa que apenas lhe cobre o queixo, nada disto podia ser uma coincidência. Imagino-a de joelhos perante ele, a nuca agarrada por aquela pata curta e inchada, a testa apoiada numa pança amorfa e pálida que esconde uma pentelheira farta e viscosa donde se soltam alguns pêlos suados que entram naquela boca perfeitamente desenhada por entre o lábio superior e um caralho tão desapontante como previsível deitado naquela língua rosa cuja ponta atrevida entretém um escroto pequeno e dependurado. Não é a primeira vez que este gajo vem aqui, deve ser um frustrado experiente desabituado ao escrúpulo. Aposto que irá soltar umas gargalhadas arrogantes semelhantes a grunhidos, aposto que vai escarrar na cara dela, gritar “chupa puta!” e peidar-se a seguir e quando ela franzir o nariz para evitar o cheiro uma gosma verde vai deslizar cara abaixo e entrar-lhe na boca, ela vai recuar enojada e o estupor vai dar-lhe uma chapada e dizer “cheira que é picanha”. Depois vai pô-la de quatro e enviar-lhe a pila no cú, os colhões serão a única coisa a tocar na vagina da minha amiga, tal é a preocupação deste campónio para o prazer dela. Aposto que vai ficar desapontado quando retirar a sua minúscula pila e ver que não está cagada, pois ele sabe que pagou para se vir na boca dela.

O meu estômago reage, sinto uma vaga de vómito trepar-me o esófago, um gosto acre preenche a minha boca como fumo, começo a sentir um liquido espesso na parte de trás da minha língua. Inspiro profundamente pelo nariz enquanto dou um grande trago de cerveja. Está morna e sem gás, é como se todo o chão dum festival de verão escorregasse pela minha garganta

- Sabes Nuno, eu sempre gostei muito de ti, foste em tempos o meu melhor amigo, era capaz de te dizer e ouvir as coisas mais horríveis com os pormenores mais ridículos, ninguém me fazia rir como tu e ao mesmo tempo foste a única pessoa que me viu chorar durante uns bons anos. Eu sempre soube dos teus sentimentos por mim e nada me fazia sentir mais culpada que não os retribuir, nos meus momentos mais tristes não conseguia deixar de imaginar como a minha vida seria fácil e feliz se correspondesse pelo menos a metade dos teus sentimentos. Às vezes durante as nossas longas conversas distraía-me a olhar para ti e a pensar “porque é que não quero namorar com o Nuno? Ele até é giro. Os seus olhos são meigos e o seu sorriso sincero, os seus lábios são grossos e devem ser confortáveis de beijar, ele tem um bom cabelo, está em relativa boa forma, deve ter pelo menos força suficiente para me controlar fisicamente, tudo bem ele veste-se mal e é hesitante quando me toca mesmo que se trate do cumprimento mais formal, mas isso são coisas que eu consigo resolver. Não sei se há remédio para aquelas pernas finas, mas que importa? Ficarei por cima dele, eu gosto disso, e ele deve gostar de ficar por baixo, pelo menos por baixo de mim.” Mas independentemente das minhas racionalizações não conseguia deixar de me sentir incestuosa ao pensar em ter sexo contigo e a menos que algum de nós precisasse mesmo dum abraço qualquer proximidade física era repleta de tensão e constrangimento. Perdoa-me Nuno, eu era nova e impaciente. Assim que virei puta, nas horas em que a casa estava a meio gás, olhava longamente para a porta e imaginava o meu Nuninho a entrar sorridente como um homem feito. Imaginei-te a percorrer a sala relaxadamente dizendo “olá” às meninas com a confiança de quem já deu alguns orgasmos, imaginei uma das tuas gargalhadas saudáveis ao olhares para mim, vinhas falar comigo com entusiasmo, livre das tuas inibições e moralismos românticos, mostravas-te resolvido e despreocupado. Oh, como desejei tal noite, quando me apoiasse no teu braço porque não conseguia parar de rir não ias contrair o bíceps e apertar as pernas, ias abrir o corpo e apresentar-me o peito, eu ia cheirar o mesmo desodorizante de supermercado aroma “tentação” e sorriria muito porque achava super fofo o teu cepticismo no que toca a perfumes caros, tu ias afagar-me a nuca e entrelaçar os meus cabelos nos teus dedos dizendo bem-disposto “tive saudades tuas, pá”. Passada a tua obsessão, eu ia poder recompensar o teu carinho com a mesma moeda, levava-te para o quarto mais lamechas do Mar de Rosas, tu ias rir-te dos corações felpudos expostos na parede e das pétalas na cama, eu empurrava-te bem devagarinho para cima do colchão, tu aterravas refastelado no colchão e eu cobriria o teu corpo com todos os beijos que desejas-te durante tanto tempo. Mas agora eles não seriam sôfregos, dramáticos ou desesperados, seriam leves como flocos de neve numa tarde de Verão particularmente quente. Ia esfregar o teu caralho duro nas minhas mamas e ver um sorriso suave e satisfeito na tua cara, ia trepar para cima de ti e sentir uma conexão que sempre pareceu tão certa. O teu caralho iria espremer-se dentro de mim dizendo “obrigado” e a minha cona iria apertar-se dizendo “não precisas de agradecer”. Deitar-me-ia em cima de ti e fumávamos um cigarro rindo dos nossos eus passados sonhadores e nervosos. O chefe bateria à porta perguntando se estávamos despachados, eu diria para ele se ir embora porque pagas-te uma segunda hora, eu estaria a mentir. Rias-te como um perdido, viravas-me de barriga para cima beijavas o meu corpo com curiosidade a tua língua investigava o meu corpo, procurando todos os pontos que o fazem estremecer mas sem se apressar exigindo o meu prazer em troca da tua dedicação. Tomavas posse do meu corpo, puxavas-me pela parte de trás dos joelhos afastando-os e provocavas o meu clítoris com um caralho semi-recuperado, eu gemia e tentava apertar as minhas pernas à tua volta, mas apenas conseguia mexer uma delas, pois a outra estava imobilizada pela tua mão, penetravas-me finalmente, encostavas os meus joelhos ao teu peito, apertavas-me as mamas com força, comias a minha boca, o teu caralho afundava-se em mim… e afastava… afundava-se… e afastava … afundava-se… e afastava… e repetia mais forte, afundava-se… e afastava… afundava-se… e afastava … afundava-se… e afastava… e repetia mais forte, afundava-se… e afastava… afundava-se… e afastava … afundava-se… e afastava… e repetia mais forte. Estás prestes a explodir, as tuas mãos apertam-me com mais força, o teu caralho engrossa, os teus joelhos batem furiosos na berma do colchão sempre que avanças, afasto-te, viro-me de barriga para baixo, pressiono o meu peito contra a cama e levanto o rabo, os meus braços estão perfeitamente dobrados e não oferecem qualquer resistência. Quero que me fodas como uma cadela, quero que me fodas como algo que compras-te e tens o pleno direito de utilizar a teu bel-prazer, quero fazer-te perceber que sou uma puta. Entras dentro de mim mas tens as pernas cansadas e não consegues manter o mesmo vigor, por isso empurro o meu rabo contra ti e afasto-o ao mesmo ritmo de à pouco, dás-me uma violenta bofetada no cú, as tuas mãos agarram as minhas ancas, uma das minhas escorrega até ao meu clítoris, recuperas as forças para mais umas investidas estóicas, quando te começo a sentir a vir afasto-me, ajoelho-me à tua frente e ponho a tua pila na boca, devagar e profundamente como o mais terno dos beijos para receber a tua gratidão na minha boca.

Se produzir qualquer som choro.

- Que me dizes Nuno, vamos lá?

Se produzir qualquer som choro.

- Vá lá Nuno, eu pensei nisto tantas vezes.

Se produzir qualquer som choro.

- Por favor Nuno, faz a vontade à tua amiga.

- Tudo bem.

É o meu limite de palavras, nem consigo acrescentar o “ganhas-te”.

- Fazes-me muito feliz.

Ela levanta-se e puxa-me pelo pulso. Tropeço mal me levanto do sofá e tenho de me agachar abruptamente para não nos levar a ambos ao chão, ela não pareceu desequilibrar-se muito mas olho para ela para ver se está bem. A minha cabeça está ao nível da sua cintura e ao olhar para cima vem-me à cabeça a imagem duma mãe a guiar o filho pela Disneylândia. Levanto-me com um riso nervoso, ela responde-me com um riso verdadeiro. Está tudo bem, ela quer isto, como poderia não querer? Sou a melhor alternativa possível, ninguém se preocupa com ela como eu. Nenhum destes cabrões vai fazer o mínimo esforço para a satisfazer. Sou um adulto agora, eu já fodi antes, eu sei o que fazer, não há nenhuma razão para esta insegurança, eu sou capaz duma relação leve e relaxada com ela, com ela eu sou capaz de qualquer tipo de relação. Devemos estar quase a chegar ao quarto, este corredor começa a parecer-me demasiado comprido para a dimensão do sítio. Se bem me lembro ela disse que o quarto era ridículo, é melhor preparar um comentário jocoso. Ela vira à direita, tira uma chave do bolso, coloca-a na fechadura, torce-a, puxa-me para dentro do quarto.

- Hahaha, este quarto é mesmo ridículo.

Sou o mestre supremo da máscara social.

Tiro um punhado de notas do meu bolso, ela escolhe algumas delas e devolve-me o resto, depois guarda a sua parte na gavetinha da mesa-de-cabeceira, é mesmo minha amiga, adivinhou certamente que podia ficar com tudo e não o fez. Só agora que consigo olhar bem para ela compreendo qual é o seu nicho. Com aquelas jeans apertadas até ao socialmente aceitável, o top branco curto como uma janela para o umbigo, os brincos coloridos, o totó vermelho no pulso e os ténis all-star azuis ela é sem margem para dúvidas a rapariga do lado, a miúda fixe, o paradigma da namorada de liceu. Até o coração tatuado no pulso que o primeiro namorado lhe convenceu a fazer traz credibilidade ao papel.

Ela avança para mim, desmaia as mãos nos meus ombros, dá-me um pequeno beijo na parte do meu peito exposta pela camisa, levanta a cabeça muito devagarinho olhando-me com olhos reluzentes de baixo para cima, desliza as mãos meigas pelo meu pescoço até os dedos do meio acariciarem a parte de trás das minhas orelhas, põe-se em bicos de pés, o seu peito roça o meu, os lábios entreabrem-se, os olhos semicerram, ela beija-me. Ela beija-me a mim. É ela que me beija a mim.

Se mover qualquer músculo choro.

- Está tudo bem Nuno? Passa-se alguma coisa?

Respondo-lhe envolvendo a sua cintura com um braço e puxando a sua cara para mim com uma mão. Beijo-a com o fulgor duma revolução, prendo-a como se prende a liberdade, dispo-a com a violência dum desejo à muito reprimido a ser finalmente libertado. Soutien azul e cuecas rendadas rosa, nada disto é por acaso. As minhas mãos tremem quando lhe tento desapertar o soutien, ela fá-lo por mim. As mamas dela são espevitadas, brancas e cabem-me perfeitamente nas mãos, ela disse que me imaginava a apertá-las com força, não preciso de me conter, agarro-as como se fossem a única coisa que me salvam dum precipício enquanto faço movimentos circulares com a língua em volta dos seus mamilos até os sentir bem durinhos, depois mordo-os. Ela interrompe os gemidos com um gritinho mudo. Baixo as minhas para os seus joelhos, faço-a cair na cama, algumas pétalas ressaltam do colchão, as minhas mãos sobem, os meus polegares pressionam as suas coxas, a minha cabeça desce liderada pela minha língua seguida de perto pelos meus lábios. Mãos e boca estão prestes a encontrar-se. Afasto o meu indicador do meu dedo do meio para lhe rodear os lábios da cona enquanto isso a minha língua intromete-se entre as suas cuecas e a sua pele, sinto pêlos, não esperava encontrar uma puta peluda.

Agarro as cuecas pelas laterais, ela levanta as pernas no ar para eu as tirar, contenho-me para não as cheirar, beijo-lhe os pés, os tornozelos, os gémeos, lambo e mordo as coxas, lambo-lhe a zona pélvica bem devagar, percorro o espaço entre a parte exterior dos lábios e as virilhas, atravesso a fina camada de pele que separa a vagina do ânus para repetir o mesmo do outro lado, coloco a minha língua entre os seus lábios, subo e dou a volta mesmo por cima do clítoris que já sinto engrossar e volto a descer, faço o mesmo do outro lado mas desta vez em vez de descer começo a estimular-lhe o clítoris com um misto de movimentos circulares e diagonais. Ela está molhada, não há forma de fingir isso, e só para de gemer para sussurrar encorajamentos como “isso”, “estou a adorar” e “por favor não pares”.

Eu sabia que todos aqueles vídeos da internet mais todas as minhas tentativas e erros não foram tempo desperdiçado. No fundo sempre soube que tudo isso me estava a preparar para este momento. Enfio-lhe os dedos, os gemidos são ainda contínuos mas agora aumentaram o volume, são uma sinfonia duma só nota, é o canto do amor e o amor tem apenas uma voz e não se pode confundir nem misturar com nenhum outro barulho. Ela tinha razão, sou um homem realizado agora, estou completo. Não somos namorada e namorado, somo mais que isso, somos cúmplices, somos verdadeiramente cúmplices. Que importa se eu tiver de lhe pagar? É um investimento tão pequeno quando comparado com todos os outros. Posso não ser propriamente rico mas o que me faltar em dinheiro irá sobrar em força de vontade. Irei a pé para o trabalho, não vou por um pé em restaurantes, apenas comerei as carnes mais baratas do porco, jantarei somente arroz com feijão, não precisarei de bares, cinemas, teatros, viagens ou cigarros. Virei cá todas as noites resgatar-lhe destes masturbadores incapazes. É melhor tirar os dedos e dar descanso à língua, não quero que ela se venha antes de sentir o meu vitorioso pau.

- Nuninho, coração, não te quero apressar mas tenho hora marcada com o Cláudio e ele é exigente e generoso em partes iguais.

- Só um pouco mais minha deusa, não quero terminar a martelo pneumático uma escultura feita a cinzel.

Sou a merda dum génio fodasse, quase me faço vir.

- Oh, tão querido! Mas ele marcou para daqui a dez minutos e não me quero arriscar a perder o meu plano de reforma. Putas têm carreira curta. Mas podemos combinar uma coisa… se conseguires esperar uma hora podes vir cá depois.

- Eu venho, eu pago o que for preciso.

- Esqueces-te que te prometi a segunda hora grátis? E até te digo mais: esta é a minha última marcação, se for preciso podes demorar mais um pouco quando voltares.

- Bem… assim sendo terei de te recompensar doutra forma.

Sim meu anjo, é isso mesmo que estás a pensar, a minha língua não está a passar pelo meu lábio superior para limpar um bigode de leite.

- Uhh, mal posso esperar. Se quiseres ver podes ficar neste armário, ele bebe como se precisasse de desinfectar uma ferida interna com gin, nem com a porta aberta seria capaz de reparar.

- Deixa estar, não sou ciumento.

- É assim mesmo que eu gosto.

- Começo a perceber muito bem os teus gostos.

- Uau Nuno, por onde andas-te durante todo este tempo?

- A percorrer um caminho longo que agora sei não ser circular.

- “Chegou ao seu destino.”

Ela disse isto imitando a voz feminina dum GPS. Ela é tão espectacular, tenho tanta sorte. E a parte melhor é que a mereço.

- Bem Nuninho, ainda temos 8 minutos, se quiseres posso acarinhar o teu caralho na minha boca e fazê-lo bolçar antes da sesta.

- Não te preocupes, uma tusa destas não adormece numa hora. Para além disso não me quero vir antes de ti.

- Que cavalheiro, assim sendo importas-te de sair para que tome um duche? Até te convidava mas da maneira que estás ia precisar doutro logo a seguir.

- Sem problema, vai lá apagar o rasto, não quero intimidar o betinho.

- Como és bondoso.

Sento-me num cadeirão preto mesmo em frente da porta do quarto mais lamechas do Mar de Rosas. Durante dez minutos não penso em absolutamente nada, deve ser isto que monges budistas sentem, mas sem a gratificação de ver a mulher amada ansiosa e satisfeita. Começo a imaginar o meu rival quando reparo no seu atraso, tenho pena do infeliz, pode até ser o melhor fodilhão desta vara de ressentidos, será incapaz de sentir o que sinto ou provocar o que provoquei. Cada um apenas pode colher o que semeou.

Passam dez minutos, será que o tipo se acobardou?

Passam mais dez minutos, onde estará ele? Quem é o otário capaz de deixar um mulherão destes à espera quase meia hora? Pensando bem não o censuro. Se é um alcoólico como ela disse não pode ter o controlo para manter uma performance longa, cada um com seus vícios. Apenas lamento a minha musa, pela forma como as coisas iam este tempo seria suficiente para dois orgasmos no mínimo.

Começo a ouvir passos pesados ao fundo do corredor, olho para o lado e vejo um rapaz novo calçando umas plataformas de 5 centímetros, vem sozinho e não entra em nenhum dos quartos, será este o Cláudio? Não o imaginava assim. É alto apesar das plataformas e magro, veste as calças mais justas do bordel, a esta distância não consigo perceber se ele pintou ou vestiu a sua t-shirt, tem também um casaco rendado de cor pérola com botões a imitar flores e uma espécie de cartola de veludo roxo. Pobre diabo, tanto trabalho a chamar a atenção para se ver forçado a pagar por sexo, sinto uma genuína pena por ele, em tempos eu também não conseguia distinguir um miúdo dum homem.

O pateta olha para mim e acena energicamente com um sorriso estúpido na cara, ao menos é alegre, deve ser do gin.

- Oh amigo, não me diga que já está à espera há muito tempo.

- Uns dez, quinze minutos.

Na realidade era o dobro, mas não queria preocupá-lo, fazer a sua amante pensar noutro durante o acto já era mau o suficiente.

- Chiça, e não lhe deixaram entrar? Toda a gente sabe que gosto de me atrasar, este rímel não se aplica sozinho. Com esta aqui esse tempo é mais que suficiente.

Talvez para ti meu imbecil.

- Eu sou muito vagaroso, mas não se preocupe, isso também faz de mim paciente.

- É talvez a mais útil das virtudes.

Nem fazes ideia meu pavão. Coitado, até parece ser bom rapaz, nem aparenta estar tão bêbedo quanto isso, deve ser da prática. É realmente lamentável, um rapaz tão novo e simpático, tivesse ele a “mais útil das virtudes” e se calhar escusava de ser o intervalo duma obra-prima. Ele vai abrir a porta, vou tentar piscar o olho a Vénus nas suas costas. Eu sou mesmo incorrigível.

- Cláudio, amorzinho!

- Filipa, minha magnífica porca!

Minha magnífica porca”?! Onde é que ela desencantou este cromo? Tive que levar as mãos à boca e dobrar todo o corpo para não estourar a rir. O idiota conseguiu impedir a minha piscadela, aposto que seria retribuída com um olhar vulcânico que me manteria quente até chegar a minha vez. Mas não me vou rebaixar a ódios mesquinhos, tenho demasiado tempo precioso para me sujeitar a isso.

Daqui consigo perceber que estão a falar e a trocar risinhos. O coitadinho deve estar nervoso, a sorte dele é que a minha miúda não é apenas a explosão sexual que eu bem conheço e também sabe ser meiga, mesmo estando a fingir. Apenas um ouvido bem treinado consegue ouvir a condescendência com que o tratou. “Amorzinho”, amorzinho é o meu cão.

Devem estar a começar. Ouço beijos e uns gemidos moles. Aposto que o rapazola se julga o rei do mundo, se ele estivesse deste lado da porta, e eu do outro, compreenderia as suas limitações e desistia de foder.

Os gemidos começam a ficar um pouco mais enérgicos. Ela devia considerar seriamente uma carreira como actriz, se não soubesse tanto quanto sei pensaria não se tratar duma simulação. Mas isto não é a uniforme canção do amor. Há demasiados contrastes, parece que ela está a reagir de formas diferentes às diferentes coisas que ele faz em vez de manter um único, constante e sonoro grito de êxtase cuja única flutuação é o aumento do volume conforme o aumento da dedicação.

Este tipo mexe-se muito, consigo ouvir a cama a ranger, a continuar assim não vai aguentar muito mais, deve ser por isso que ela ora geme ora grita tão alto, deve estar a ver se o despacha para poder estar comigo mais cedo.

Daqui a nada ele está a acabar, deve estar mesmo quase.

Pronto, estou prestes a entrar em cena, já não ouço tanto barulho. Ela está a desleixar-se no entanto, dizer: “pára, não sei se aguento tanto” é um bocado duro, mesmo que seja dito por entre um suspiro afectuoso e um risinho colegial. Tem calma minha leoa, não deprimas o menino, eu já aí vou dar-te o que precisas.

Ela apercebeu-se do erro e retoma a intensidade, ela sabe o que faz. Mas devia ter mais cuidado, se continua a fingir estas faltas de ar até este infeliz pode descobrir-lhe o jogo.

Fodasse meu cabrão, fizeste-me vir outra fez”! Mas de quanta aprovação é que este palhaço precisa? A mãe não o abraçou quando era criança? Será por isso que se veste como um espantalho no arraial Pride.

Já passam dez minutos da hora, será que se passa alguma coisa? Será que esta besta está a forçar a minha princesa? Será que devo agir?

Passam vinte minutos da hora. Já teria arrombado a porta e demonstrado a minha virilidade se não me tivesse lembrado que este pedaço de merda chegou vinte minutos atrasado. O meu amor está apenas compensar o tempo desperdiçado por ele, desde pequena que é assim, no secundário costumava fazer os trabalhos de grupo sozinha e dizia sempre que as tarefas tinham sido distribuídas igualitariamente. A prova que é este o caso foi eu ter-lhe ouvido dizer “vá lá fica mais um bocadinho”, ele ainda pareceu cair em si e respondeu “não sejas gulosa, não queres deixar o teu amigo à espera, amanhã há mais”, afinal de contas a química entre nós deve ser perceptível até para este paspalhão acéfalo. Ela ter suplicando falsamente “só mais um pouco, por favor, eu faço o que quiseres” pareceu-me um pouco excesso de zelo, mas ela é mais bondosa que eu, e é por isso que a amo.

Passam trinta minutos da hora, o canalha enfeitado deve estar embaraçado. A minha rainha é talentosa, mas não sei se o é ao ponto de fazer um cão ejacular quando ele sabe estar um lobo à porta.

- Desculpe lá o atraso amigo, já sabe como são estas gajas, não é? A Filipa pediu para o senhor esperar só mais dez minutos para ela se refrescar, quando entrar ela estará como a viu quando chegou. E vá com vontade, ela hoje está insaciável. Não sei se haverá paciência que aguente. Um abraço e divirta-se.

Podes ter a certeza que há paciência que aguente meu verme prepotente! Não fosse este o dia mais feliz da minha vida e desfazia-te as trombas aqui e agora! A única coisa que seria reconhecível nessa carcaça desnutrida seria esse sorriso imbecil para que o mundo soubesse que morreste conforme viveste, como um filho da puta néscio sem noção do seu fracasso como homem, a tua própria mãe sentiria repulsa de ti no teu funeral, se é que já não a sente. Esperar dez minutos para ela se refrescar? Mas eu sou um puto como tu? Os meus dentes de leite já caíram há muito. Não sinto qualquer pudor em entrar agora e acabar o que foste incapaz de continuar. Eu sou um homem vivido, não um mariconço enojado.

Abro a porta com um pontapé e deixo-a esbarrar contra a parede, não há necessidade para delicadezas. Deixo-me ficar quieto por debaixo da porta para ela ver o seu herói em toda a sua glória.

- Hey, quem está aí?

Porque me perguntas “quem está aí?” com essa voz dispersa e olhar vazio, meu amor? Eu estou mesmo à tua frente, não te lembras de mim?

- É o Nuno.

A minha voz trai-me de novo.

-Nuninho, coisa fofa. Deixa-me só ir tomar um duche e já vou ter contigo, tá?

Porque é que te levantas tão devagar com a mão apoiada no colchão? Porque é que essa mão é a única coisa que te impede de cair devido ao tremor das tuas pernas? Porque ondulas em macias contorções que percorrem todo o teu corpo? Porque andas tão devagar? Será que temes que o chão se abra se o pisares normalmente? Que te fez ele? Magoou-te? Vai ficar tudo bem meu amor, eu vou tomar conta de ti.

Avanço para ti destemido e colho-te nos meus braços. És apanhada de surpresa pelo meu ímpeto e afastas-te um pouco. Não te culpo, mas não precisas de ter medo, está tudo bem, sou eu. Vou recompensar-te como prometi. Não há tempo a perder, a cura será mais rápida que a mazela. Um beijo na boca para te sentires segura, um em cada lado do pescoço para fazer o sangue fluir, uma mordidela vigorosa por mamilo para te espicaçar, duas chapadas nas coxas para anunciar o que aí vem uma lambidela contínua e célere pelo teu ventre, abrandada pelo que julgo ser esperma ressequido. Estou-me pouco cagando. E num instantinho aqui estou eu, de frente para o templo de Vénus. Língua, língua, línguas, dedos, dedos, dedos.

- Tem calma Nuno, estás assanhado. Deixa-me lavar, estou toda porca.

- Estás magnífica.

Porque sorris? Porque é que esse sorriso não é dirigido a mim? Porque é que tenho de te empurrar com a mão para que não saias da cama? Porque é que te deixas cair com tanta facilidade? Língua, língua, língua, dedos, dedos, dedos. Porque é que as tuas virilhas estão tão peganhentas e a tua cona tão seca? Que mancha é esta no edredão? Que poça é esta no chão? Para onde foram as pétalas? Língua, língua, líng… porque empurras os meus ombros com os pés? Porque é que me deixo sentar tão facilmente? Porque me sinto tão patético?

- Chato! Larga-me! Já venho! Eu sabia que devia ter-te feito a merda dum broche.

Porque te mexes tão rápido de repente? Porque me deixas sozinho no quarto mais ridículo do puteiro?

Se pensar um pouco choro.

Ela nunca me quis foder.

Se pensar um pouco choro.

Foder é o trabalho dela.

Se pensar um pouco choro

Gajas não emitem sempre o mesmo som monocórdico quando estão a gostar de foder.

Se pensar um pouco choro.

Ninguém emite sempre o mesmo som monocórdico quando está a gostar de foder.

Se pensar um pouco choro.

A minha ex-namorada arqueava mais as costas quando lhe fazia minetes

Se pensar um pouco choro.

Já passaram muito mais de dez minutos.

Se pensar um pouco choro.

Ela sempre teve pena de mim.

- Nuno, estás bem? Passa-se alguma coisa?

Se ela olhar para mim vai ver-me chorar.

- Nuninho, querido, fala comigo.

Se ela olhar para mim vai ver-me chorar.

- Nuno, desculpa pelo que disse há pouco, estava zonza e cansada, o Cláudio é cá uma trabalheira… mas agora já estou melhor. Vem cá, se soubesses como esperei este momento desde que comecei a trabalhar…

Se ela olhar para mim vai ver-me chorar.

- Nuno, eu sou tua amiga, eu gosto de ti, eu não suporto ver-te assim. Olha para mim, deixa-me ajudar-te. É justo, tu prometeste-me isso, lembras-te? É isso que nós fazemos, ajudamo-nos um ao outro, dizemos as coisas mais horríveis com os pormenores mais ridículos.

Há um sabor amargo nesta que é a fungadela mais longa da minha vida.

- Preciso de…

Há um sabor muito mais amargo nesta que é a fungadela mais longa da minha vida.

-… ir à casa de banho.

- Estás bem?

- Sim.

Porque fechei a porta com tanta força?

Preciso de abrir todas as torneiras no máximo da sua potência. Preciso de me assoar. Preciso de me ver ao espelho. Preciso de olhar para mim enquanto choro para saber quando parar. Preciso de gritar. Preciso de puxar o autoclismo para abafar o som. Preciso de gritar no exacto momento em que a descarga abafa o meu grito. Preciso de gritar outra vez. Preciso de esperar que o autoclismo encha. Preciso de sincronizar o meu grito com o autoclismo de novo. Preciso de me ver ao espelho novamente. Preciso de me acalmar. Preciso de desistir da ideia que sou a porra dum guru sexual capaz de enlouquecer qualquer mulher com uns truques fisiológicos que aprendi com pornografia. Preciso de aceitar o facto que ela prefere mil vezes foder com uma série de mil gajos do que comigo. Preciso de dar graças aos Deuses por ter uma amiga complacente disposta a dar-me uma foda de graça apenas porque sempre estive apaixonado por ela. Preciso de dar-lhe a oportunidade de me ajudar assim como ela me deu a oportunidade de lhe ajudar a ela. Preciso de me tornar num homenzinho. Preciso de parar de chorar. Preciso de sair desta casa de banho.

Abro a porta, não vejo ninguém. Não faço a mais pálida ideia de quanto tempo perdi na casa de banho. Provavelmente muito. Ela deve ter ido embora, é melhor assim. Ao que parece aquele abençoado esquisitóide deu-lhe a foda da sua vida, ela estava exausta mas feliz até eu chegar. Sinto-me bem por ela ter um cliente que não pense apenas em si próprio e que se preocupe com o prazer dela. Ainda bem que me cruzei com ele e não com aquele monstro dos calções camuflados. Pensando bem ele nem deve ser assim tão mau, aposto que é apenas um simplório que lhe pede abraços e beijos na boca para se lembrar de quando ele e a mulher eram atraentes e usavam os últimos gritos da moda. Espero que ela consiga manter uma conversa com o Cláudio, ele parece um bom rapaz e a julgar pelas calças deve estar muito mais preparado para lidar com a situação do que eu. Não que a comparação seja relevante, eu não tenho nenhuma situação para lidar. Já lhe vi nua, ela já me beijou, já explorei o seu corpo, já lhe lambi a cona, ela pareceu gostar apesar do artifício. Não é rebuscado assumir que tive um papel causal nos seus múltiplos orgasmos, mesmo que não tenha sido razão suficiente. Havia uma altura em que isto me bastava. Eu vou ficar bem, eu não a via há muito tempo e estava bem, agora eu devo ficar melhor. Daqui a dois dias vou convidá-la para um café, ela não deve trabalhar de tarde, vai ser giro, como era dantes, vou queixar-me do meu trabalho, ela vai ofuscar as minhas histórias com as suas. Acho que para a próxima não me vou contrair todo quando ela me tocar.

Ouço um barulho vindo do outro lado do colchão, deve ser impressão minha.

Volto a ouvir, inclino o meu corpo para a esquerda, vejo uma mão acenar no fim da cama. Sinto-me a alucinar. Agora vejo um braço, seguido dum perfil de rosto escondido por um cabelo comprido. A pouco e pouco vou vendo um corpo onírico e familiar a sair daquela toca acolchoada.

É ela, completamente nua, a gatinhar na minha direcção com a cabeça baixa. Ao abeirar-se de mim ela coloca as mãos nos meus sapatos, espreguiça todo o corpo cuidadosamente até apoiar o rabo nos calcanhares. Depois sobe as mãos pelas minhas pernas até as deixar ficar com os dedos por dentro das minhas calças e as palmas por fora. Levanta a cabeça como se cada articulação do seu pescoço pedisse autorização à próxima para se erguer. Olha-me de baixo para cima com as pupilas dilatadas e reluzentes, quase lacrimejantes.

-Nuno… Desculpa.

Estava errado, tremi por toda a parte quando ela me tocou. Perdi o equilíbrio, agachei-me abruptamente, com uma inspiração profunda tentei encontrar o meu centro de gravidade com o ar, consegui-o passado alguns segundos. Agarro-a pelas axilas e levanto-a, afago-lhe os ombros.

- Não te desculpes, a culpa não é tua, desculpa, eu não consigo processar tudo isto tão rápido como queria, mas devo conseguir eventualmente. Bora tomar café amanhã?

- Nuno, és demasiado rápido a perdoar.

Ela desata-me os atacadores, apoia a sola dos meus sapatos entre as coxas, tira-os, aponta-me um cadeirão branco foleiro num canto do quarto.

- Senta-te.

Acho que preciso de reaprender a andar, preciso de inclinar o corpo para a frente tanto quanto consigo para apoiar os meus braços nos do cadeirão e rodar a cintura para o assento como um inválido. Ela gatinha na minha direcção, aperta as minhas coxas e faz subir o corpo usando-as como apoio, põe o queixo na minha braguilha.

- Que queres que faça?

- Quero que venhas tomar café comigo amanhã, de tarde, e que esqueças esta noite até eu ter a coragem para a repetir e se tu quiseres, claro.

Ela levanta-se num salto e dá-me um bofetão na cara.

- Nuno, tu sempre quiseste fazer isto comigo, e eu também. Achas que não desejei conseguir foder-te de cada vez que demoravam mais de duas horas a responder-me a uma mensagem? Achas que não desejei destruir essa barreira de frustração e fantasia que nos impede de sermos amigos. Os mais próximos e íntimos amigos. Verdadeiros amigos. Amigos que não se preocupam se demonstram demasiado afecto, ou uma escassez dele. Achas que nunca pensei em ti durante todo este tempo em que não nos falámos? Que não te quis telefonar inúmeras vezes mas não o fiz com o receio de ajudar a espalhar uma doença? Nuno, eu sou uma puta. Eu já fodi bem piores por valores bem mais baixos, tu até és bom de boca. Não anseio foder contigo nem o desprezo, mas anseio abraçar-te sem ficares nervoso, dizer que te amo sem ficares aéreo, ajudar-te sem te sentires patético. Permito-mo, podes usar-me até a tua obsessão passar e quando passar podes usar-me até isso te saber bem. Ficarei sempre feliz por te ver aqui.

- Eu não me sinto desejado por ti.

- Eu também não.

Ficámos bem mais de dez minutos sem falar. A certa altura ela sorrio, e parou de sorrir, e sorrio, e parou de sorrir. Tive medo de lhe perguntar o que se passava.

- Eu acho que o meu senhor teve uma noite muito pesada e precisa de mimo e descanso.

Tive medo de lhe perguntar o que se passava.

Ela ajoelhou-se e começou a massajar-me os pés.

Tive medo de lhe perguntar o que se passava.

Ela começou a beijar-me os pés.

Tive medo de lhe perguntar o que se passava.

- O meu senhor deseja mais alguma coisa?

Tive medo de responder.

Ela passou a mão pelas minhas coxas como se me aplicasse um bálsamo. Descansou a palma nas minhas calças, mesmo em cima da minha pila. Foi apertando gradualmente até eu ficar com uma semi-tusa, depois descomprimia e voltava a apertar enquanto me olhava com um misto de carinho e perversão.

Ela sabia o que fazia.

- Podes, tratar-me por meu amo?

- Com certeza meu senhor, é uma honra meu senhor.

Não é altura para me preocupar com a nomenclatura mas ela…

- Peço perdão meu amo, eu devia tê-lo tratado por meu amo quando mo exigiu mas esqueci-me. Imploro o seu perdão, meu amo.

- Não precisas de…

Ela olha para mim com a mesma reprovação com que me olhava quando eu fazia batota em jogos de cartas.

- Não sei se consigo, eu espero ser tratado duma determinada forma e fico muito desapontado quando tal não acontecesse.

- Mas eu suplico-lhe meu amo, eu suplico-lhe. Não me renuncie por favor. Castigai-me, ensinai-me e eu irei servi-lo como deseja, meu amo.

Dito isto vira-se de costas para mim, deita a barriga na cama e estica o mais que pode o seu cú na minha direcção.

- Castigai-me meu amo, ofereça-me a oportunidade de aprender.

Dou-lhe uma palmada no rabo tímida, outra frouxa e uma cobarde para finalizar.

- O meu amo é demasiado brando para comigo, assim não consigo aprender.

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publicado às 18:22





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